O Terramoto de Lisboa

A 1 de Novembro de 1755 Lisboa era devastada por um violento terramoto, seguido de um incêndio e de um tsunami, para horror da Europa que recebia as notícias do cataclismo. Voltaire analisou o evento nestes versos “Poème sur le désastre de Lisbonne”, espécie de introito à obra que mais tarde o celebrizaria, o romance “Cândido”, e, no mesmo entendimento crítico, não deixa de delapidar as filosofias do optimismo que encantavam os contemporâneos, de Leibniz a Pope. Para Voltaire, não poderia existir uma entidade benevolente e carinhosa que interviesse nos assuntos humanos para recompensar os virtuosos e punir os culpados, o terramoto em Lisboa revelava a punição uníssona dos homens independentemente da salvação da alma. Se a Providência é misericordiosa por que punia assim os inocentes?

Poderia supor que o desejo de realizar a felicidade mais não era do que uma ilusão face à inevitabilidade da catástrofe. São as premissas do iluminismo que pressupõe a razão contra o divino, o fatalismo contra o optimismo, a ciência contra a metafísica, o relativo contra o absoluto, o deísmo (ou mesmo o ateísmo) contra o catolicismo, o corpo contra o espírito, o bem e o mal são pressupostos da ignorância e não há qualquer mistério na Providência. Assim analisava Voltaire os eventos à luz da sua ideologia, criticável, mas de pena astuta, como em tudo o que elaborou, ganhando mais pelo estilo e pelo brilho sarcástico com que elaborou o verso. Fica como documento curioso de um episódio macabro.