Antero e a decadência

A 11 de Setembro de 1891 Antero de Quental comete suicido em Ponta Delgada. O sentimento de decadência nacional parecia inflamar as inteligências, socorrendo-se da morte voluntária como revolta do instinto contra as circunstâncias. Antero, Soares dos Reis, Camilo Castelo Branco, Manuel Laranjeira, mais tarde Trindade Coelho, anunciavam um astro nefasto que parecia engolir a própria terra portuguesa. Unamuno não foi indiferente, rotulando Portugal como “terra se suicidas”. Ainda que os motivos nem sempre coincidissem com um patriotismo aniquilado, como aconteceu com Camilo, cuja cegueira contribuiu para a sina trágica.


O sentimento de decadência nacional amordaçava o âmago das consciências. Pessimismo glosado pelas penas verbosas da Geração de 70, ao ponto de se tornar um cliché de intelectuais que passaram a procurar alternativas fortes ao modelo constitucional: fosse o republicanismo ou o cesarismo. Da poesia ao romance as páginas cobriram-se de visões sinistras de uma morte anunciada. A primeira geração romântica não tinha deixado despercebido este desencanto, quando Herculano se autoexila, deixando o eco do seu desalento: “Isto dá vontade de morrer.”

O fim de século apenas consubstanciou o sentimento arrastado ao longo de décadas. Antero não deixou de reunir no seu verbo a própria síntese do pessimismo, ao mesmo tempo que alimentava o desejo de redenção. O poeta desdobrou a sua poesia nas dimensões profundas do ideal, na identidade ontológica fica a dúvida do Ser e na preocupação metafísica a consequência da alma que busca a divindade perdida.

É o convertido que não encontra Deus:


“Amortalhei na Fé o pensamento
E achei a paz na inércia do esquecimento…
Só me falta saber se Deus existe!”


O atormentado completamente absorvido com a morte, “O que diz a morte”, “Elogio da Morte” e os sonetos finais reclinados para o pessimismo de uma vida resoluta, é o sentido trágico do combate:


“Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso de penar tornado crente,


Respondeu: desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se é isto a vida,
Nem foi de mais o desengano e a dor.”